O consumo de antidepressivos entre adultos cresceu 12,4% em bases corporativas no Brasil, com esses fármacos ocupando a segunda posição entre os mais usados nesse público e queda de 10,6% no uso de ansiolíticos no mesmo período. O dado dialoga com a realidade nacional: 10,2% dos adultos já receberam diagnóstico de depressão e quase metade desse grupo relatou uso recente de antidepressivos.
Esse movimento não fica restrito aos consultórios: chega às empresas em forma de absenteísmo, presenteísmo, afastamentos e maior sinistralidade e já há registros do maior volume de afastamentos por transtornos mentais em pelo menos 10 anos, com 472 mil licenças em 2024. Entender como esse fenômeno afeta a SST é essencial para redesenhar prevenção, cuidado e gestão de risco no trabalho.
Neste artigo, você vai aprofundar seu entendimento sobre:
• O que os dados realmente mostram
• Quem mais está usando e onde cresce
• Por que a escalada aconteceu
• Impactos no ambiente de trabalho e na SST
• Linhas de cuidado e prevenção dentro das empresas
• Indicadores para monitorar e reduzir risco
• Perguntas rápidas e respostas objetivas
O que os dados realmente mostram
O levantamento da Funcional Health Tech, com mais de 2,5 milhões de beneficiários, comparou junho/2023–maio/2024 com junho/2024–maio/2025 e identificou alta de 12,4% entre 29 e 58 anos; antidepressivos tornaram-se o segundo grupo mais consumido nessa base, enquanto ansiolíticos recuaram 10,6%.
Em paralelo, a PNS/IBGE indica que 10,2% dos adultos receberam diagnóstico de depressão e cerca de 48% usaram antidepressivos nas semanas anteriores à pesquisa. No ambiente corporativo, outras fontes também vêm registrando aumento na demanda por psicofármacos, com especialistas alertando para a necessidade de ações além do subsídio de medicamentos, ambiente saudável, psicoterapia e hábitos de vida são determinantes para a efetividade do tratamento.
Quem mais está usando e onde cresce
A alta está concentrada em adultos de 29 a 58 anos, com mulheres entre os maiores perfis de consumo; bases corporativas também vêm envelhecendo, o que eleva a polifarmácia e o risco de interações.
Regionalmente, há forte volume no Sudeste e aceleração percentual em outras regiões, o que exige capilaridade de cuidado. No recorte corporativo, houve aumento do uso entre faixas de 39 a 43 anos em dados monitorados por benefícios de saúde.
Por que a escalada aconteceu
A pandemia catalisou uma crise já existente, somando luto, isolamento e insegurança econômica a rotinas marcadas por jornadas longas, hiperconectividade e cobrança por desempenho.
Em paralelo, a redução do estigma e maior acesso a tratamento favoreceram a busca por ajuda, um avanço que precisa estar ancorado em uso racional de medicamentos, psicoterapia e acompanhamento clínico estruturado.
Impactos no ambiente de trabalho e na SST
O avanço no uso de antidepressivos e a alta carga de transtornos mentais impactam diretamente a gestão de risco ocupacional:
- Absenteísmo e afastamentos: 2024 registrou 472.328 licenças por transtornos mentais, o maior volume em uma década, pressionando operações e custo assistencial. Estudos anteriores já apontavam predominância de mulheres e recorrência de afastamentos por depressão, com períodos crescentes de ausência do trabalho.
- Presenteísmo e segurança: sintomas residuais (fadiga, dificuldade de concentração, indecisão) e efeitos adversos iniciais de medicamentos podem reduzir atenção situacional, aumentar erros e elevar risco em tarefas críticas.
- Polifarmácia e interações: trabalhadores mais velhos tendem a usar múltiplos fármacos (cardiometabólicos + psicofármacos), elevando risco de interações e quedas na adesão — um problema de segurança e de desfecho clínico.
- Clima, assédio e organização do trabalho: ambiente tóxico e metas descoladas da realidade reduzem a efetividade de qualquer intervenção clínica. Especialistas reforçam que “o medicamento não surtirá efeito em um ambiente de trabalho desestimulador”, ações precisam incluir atividade física, alimentação, psicoterapia e mudanças organizacionais.
- Conformidade regulatória: a pauta entrou no radar normativo; o tema de saúde mental passou a ser fiscalizado, com potencial sanção em caso de descumprimento de diretrizes.
Linhas de cuidado e prevenção dentro das empresa
Para que a SST responda a esse cenário, a abordagem deve ser contínua, baseada em evidências e integrada à operação:
- Porta de entrada e confidencialidade: triagem periódica com instrumentos validados (ex.: PHQ‑9, GAD‑7), inclusão de perguntas funcionais em ASOs, canais de acolhimento sigilosos e orientação de primeiro contato.
- Psicoterapia e educação: oferta de psicoterapia estruturada para quadros leves e moderados, psicoeducação sobre adesão, efeitos e sinais de alerta, e campanhas contra automedicação e compra irregular de controlados.
- Coordenação clínica: encaminhamento criterioso a psiquiatria, revisão periódica de prescrição, checagem de interações e plano de descontinuação gradual quando indicado — sempre com supervisão médica.
- Ajustes organizacionais: gestão de carga e jornada, pausas programadas, previsibilidade, políticas de desconexão e tolerância zero a assédio; ambientes seguros potencializam o efeito dos tratamentos.
- Segurança operacional: análise de tarefas críticas para mitigar risco em fases de início/troca de medicação; ajuste temporário de atividades quando necessário para preservar a segurança.
- Capilaridade e equidade: garantir acesso uniforme a cuidado nas unidades fora dos grandes centros, respeitando diversidade de turnos e regimes de trabalho.
Indicadores para monitorar e reduzir risco
▪️ Tempo entre triagem positiva e primeiro atendimento.
▪️ Adesão a psicoterapia/retorno às consultas e ao tratamento prescrito.
▪️ Absenteísmo e afastamentos por saúde mental; tempo médio de afastamento.
▪️ Taxa de presenteísmo estimada em áreas críticas.
▪️ Sinistralidade e custo assistencial relacionado a saúde mental.
▪️ Incidentes e quase-incidentes correlacionados a falhas de atenção.
▪️ Satisfação do colaborador e NPS de serviços de saúde mental.
Perguntas rápidas e respostas objetivas
1. Crescer o uso é sempre ruim? Não necessariamente. Parte reflete quebra de estigma e acesso ao cuidado. O risco está no crescimento sem acompanhamento: automedicação, baixa adesão e interações mal geridas aumentam eventos e custos.
- O ambiente interfere no efeito do tratamento? Sim. Sem intervenções no trabalho (carga, metas, assédio), o tratamento perde efetividade e o risco permanece alto.
- Como reduzir risco operacional quando alguém inicia antidepressivo? Monitorar sintomas residuais e efeitos iniciais, ajustar temporariamente tarefas de alto risco e garantir acompanhamento clínico próximo.
- Psicoterapia funciona? Sim. Em quadros leves a moderados, psicoterapias baseadas em evidências (como TCC) são tratamentos de primeira linha e mostram boa eficácia e manutenção de resultados. Em quadros moderados a graves, a combinação com medicação costuma trazer melhores desfechos, mas a escolha do plano é individualizada e deve ser feita por profissional habilitado. Procure avaliação com médico e/ou psicólogo para definir a melhor abordagem para o seu caso.
- O que fazer para evitar automedicação? Educação contínua, canais de cuidado acessíveis, triagem ativa e políticas claras sobre aquisição/uso de medicamentos controlados.
Conclusão Empresas precisam transformar a pauta de saúde mental em uma linha de cuidado integrada à SST: triagem e acolhimento confidenciais, psicoterapia estruturada, coordenação clínica segura, ajustes organizacionais que ataquem causas de risco e um painel de indicadores que guie decisões. Essa combinação reduz afastamentos, presenteísmo e incidentes, melhora o clima e dá sustentabilidade às operações com conformidade regulatória e impacto real no bem-estar.Agora é sua vez
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Fontes
[1] APM (síntese da pauta CNN/Funcional): “Uso de antidepressivos aumenta 12,4% entre adultos no Brasil” – 31/07/2025.
[2] Revista Rebram (artigo científico, 2025): “Tendência nas prescrições de antidepressivos e ansiolíticos no Brasil” (PDF).
[3] Rádio Rural (republicação do levantamento Funcional/CNN): “Consumo de antidepressivos cresce 12,4% entre adultos no Brasil…”.
[4] VEJA (Covitel/OMS e panorama de ansiedade; menção a terapias e medicamentos).
[5] Ministério da Saúde – Portal Gov.br: “Depressão”.


