Quando o remédio vira rotina: o silêncio dos trabalhadores e o boom da medicação no ambiente corporativo brasileiro

O ambiente de trabalho brasileiro está cada vez mais medicado: ansiolíticos, antidepressivos e calmantes se tornaram companheiros invisíveis de milhões de profissionais. Em 2025, mais da metade dos trabalhadores — líderes e liderados — admitem usar medicamentos para lidar com estresse, ansiedade e burnout, segundo pesquisa da The School of Life em parceria com a Robert Half. O fenômeno é nacional, mas o assunto ainda é tabu, especialmente entre gestores. Este artigo vai além dos números: mostra como a medicação virou muleta para suportar jornadas exaustivas, discute o impacto social e financeiro desse hábito, questiona se estamos tratando sintomas ou causas e convida você a refletir sobre o futuro do trabalho que queremos construir.

Neste artigo, você vai aprofundar seu entendimento sobre:

▪️ O boom da medicação: como o remédio virou rotina no ambiente de trabalho

▪️ O tabu que persiste: por que gestores escondem o uso de medicamentos, mesmo quando a empresa fala em acolhimento

▪️ O custo invisível: o impacto financeiro e social da medicalização do trabalho

▪️ Tratando sintomas, não causas: o que os números revelam sobre o ambiente corporativo brasileiro

▪️ Para além do remédio: caminhos para um ambiente de trabalho mais humano e saudável

O boom da medicação: como o remédio virou rotina no ambiente de trabalho

O Brasil vive um fenômeno silencioso: o uso de medicamentos para saúde mental no trabalho explodiu em 2025. Dados da The School of Life e Robert Half mostram que 52% dos líderes e 59% dos liderados declararam usar esses remédios, um salto impressionante em relação ao ano anterior, quando os índices eram de 18% e 21%, respectivamente.

A analogia é clara: o remédio virou o “café da manhã” de muitos profissionais, uma tentativa de equilibrar a balança entre demanda e saúde.

Mas o que explica esse boom?

  • Pressão por resultados: Metas cada vez mais agressivas, prazos curtos e a cultura do “sempre ligado” criam um terreno fértil para o estresse crônico.
  • Jornadas exaustivas: A rotina administrativa, com múltiplas tarefas e baixa autonomia, está no topo do ranking de vulnerabilidade psicossocial.
  • Falta de apoio real: Apesar do discurso de acolhimento, muitos trabalhadores não encontram espaço para falar sobre suas dificuldades.

O resultado é um ambiente onde o remédio vira solução rápida, mas será que é a única saída?

O tabu que persiste: por que gestores escondem o uso de medicamentos, mesmo quando a empresa fala em acolhimento

Apesar do uso massivo, o tema continua sendo um tabu. Quase 3 em cada 4 gestores preferem não contar para seus próprios chefes que usam medicação.

A ironia é cruel: quanto mais alto o cargo, menos se admite a própria vulnerabilidade.

Por trás desse silêncio, há uma cultura que ainda associa fragilidade emocional a fraqueza profissional. A metáfora é poderosa: é como se todos estivessem usando óculos escuros em uma sala escura, ninguém vê o sofrimento do outro, mas todos sentem a escuridão.

O paradoxo é que 56% dos líderes dizem que suas empresas incentivam práticas de acolhimento emocional. O discurso existe, mas a prática ainda engatinha.

Estudos indicam que cada vez mais pessoas buscam ajuda médica, mas o estigma em torno desse assunto impede que os trabalhadores falem sobre suas dificuldades. A conversa sobre saúde mental no trabalho precisa continuar, ao falarmos abertamente, podemos ajudar a criar um ambiente mais acolhedor e menos estigmatizante.

A pergunta que fica: até quando vamos fingir que está tudo bem?

O custo invisível: o impacto financeiro e social da medicalização do trabalho

A medicalização do trabalho tem um preço e ele vai além do valor da caixinha na farmácia.

O reajuste dos medicamentos em 2025 chegou a 5,06%, e nos últimos 10 anos, o preço dos medicamentos mais que dobrou no Brasil. Para ilustrar: um antibiótico amplamente utilizado, como o Clavulin, custava R$45 em 2015 e hoje está na faixa dos R$95, um aumento de mais de 110%.

Para famílias de menor renda, os gastos com medicamentos podem representar até 84% das despesas de saúde. Segundo dados do IBGE, os gastos com medicamentos representam, em média, 46% das despesas de saúde das famílias brasileiras.

O impacto é sentido no bolso, mas também na vida:

  • Dependência química: O uso prolongado de ansiolíticos e antidepressivos pode criar dependência e efeitos colaterais graves.
  • Automedicação perigosa: Muitos trabalhadores alteram doses ou combinam medicamentos sem orientação médica.
  • Mascaramento de problemas: O remédio pode esconder sintomas sem resolver as causas estruturais do sofrimento.


Tratando sintomas, não causas: o que os números revelam sobre o ambiente corporativo brasileiro

Aqui está o paradoxo mais intrigante: apesar do boom da medicação, apenas 40% dos funcionários brasileiros relatam estresse, índice abaixo da média global.

Isso pode indicar duas coisas:

  1. O uso de remédios está mascarando os sintomas
  2. O estigma ainda impede uma avaliação honesta do sofrimento psíquico

O crescimento do uso de medicamentos para saúde mental entre os trabalhadores tem chamado a atenção, com ansiedade e depressão sendo problemas que afetam muitos, e os remédios se tornando uma opção comum. Alguns trabalhadores relatam que, após iniciar o uso de medicamentos, conseguem se concentrar melhor e lidar com suas tarefas diárias. Outros, no entanto, ainda enfrentam desafios e precisam de acompanhamento constante.

A questão central é: estamos tratando pessoas ou produzindo robôs funcionais?

O ambiente corporativo brasileiro precisa olhar para si mesmo e questionar:

  • Por que tantos profissionais precisam de medicação para trabalhar?
  • O que há de errado com nossas estruturas organizacionais?
  • Como podemos prevenir, em vez de apenas remediar?

Para além do remédio: caminhos para um ambiente de trabalho mais humano e saudável

A medicação pode ser necessária, mas não pode ser a única resposta. É hora de pensar em soluções estruturais:

Prevenção em primeiro lugar:

  • Jornadas de trabalho mais equilibradas
  • Metas realistas e alcançáveis
  • Espaços para diálogo e feedback
  • Programas de bem-estar que vão além do discurso

Cultura de acolhimento real:

  • Lideranças preparadas para lidar com questões emocionais
  • Políticas claras de apoio à saúde mental
  • Quebra do tabu através de conversas abertas
  • Investimento em terapias e apoio psicológico

Mudança de mentalidade:

  • Reconhecer que vulnerabilidade não é fraqueza
  • Entender que cuidar das pessoas é estratégia de negócio
  • Valorizar o ser humano, não apenas o profissional

A metáfora final é poderosa: em vez de dar remédios para quem está se afogando, que tal ensinar a nadar ou, melhor ainda, construir pontes mais seguras?

Conclusão

O boom da medicação no ambiente corporativo brasileiro é um sintoma de algo muito maior: um modelo de trabalho que está adoecendo as pessoas. Não podemos mais fingir que está tudo bem enquanto mais da metade dos nossos trabalhadores precisa de remédios para suportar a rotina profissional.

É hora de uma mudança real, não apenas no discurso, mas na prática. Se você quer transformar essa realidade na sua empresa, construir um ambiente onde saúde mental é prioridade e não tabu, onde pessoas são cuidadas e não apenas medicadas, chama a Tupã.

Vamos juntos criar um futuro do trabalho mais humano, onde o bem-estar não seja um luxo, mas um direito. Porque cuidar das pessoas não é apenas o certo a se fazer, é também o mais inteligente.

Fontes

[1] Vidalink – Reajuste dos medicamentos em 2025: o que sua empresa precisa saber

[2] Unitrends – Cresce o uso de medicamentos para saúde mental entre trabalhadores em 2025

[3] CFF – Medicamentos para diabetes e hipertensão dominam ranking de vendas no Brasil em 2025

[4] APM – Uso de antidepressivos aumenta 12,4% entre adultos no Brasil

 

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