Assédio sexual no trabalho: o crime silencioso que atinge 1 em cada 3 mulheres no Brasil

Mais da metade dos brasileiros já testemunhou ou sofreu assédio sexual no ambiente de trabalho. Esse dado alarmante, revelado pela pesquisa Trabalho Sem Assédio 2025, realizada pela Think Eva em parceria com o LinkedIn, expõe uma realidade incômoda: o que muitos ainda chamam de “cantada” ou “brincadeira” é, na verdade, uma forma de violência que está destruindo carreiras, saúde mental e a confiança de milhões de mulheres.

Entre 2023 e 2024, as ações judiciais envolvendo assédio sexual na Justiça do Trabalho cresceram 35%, saltando de 6.367 para 8.612 casos. Em sete de cada dez processos, as vítimas são mulheres. As denúncias ao Ministério Público do Trabalho também aumentaram 16,8%, passando de 1.281 para 1.497 casos registrados. Os números não mentem: o assédio sexual no trabalho é uma epidemia silenciosa e crescente.

Neste artigo, você vai aprofundar seu entendimento sobre:

▪️ Quem são as principais vítimas?

▪️ As marcas invisíveis do assédio

▪️ O silêncio ainda vence

▪️ O que é considerado assédio sexual?

▪️ O que as empresas podem (e devem) fazer?

Quem são as principais vítimas?

O assédio sexual não escolhe cargo, mas atinge com mais força mulheres em posições intermediárias e com menor poder econômico. Segundo a pesquisa, 66% das vítimas têm renda familiar de até 5 salários mínimos. A violência se concentra em cargos como pleno ou sênior (45,8%), assistente (29,2%) e, em menor escala, diretoras e executivas (14,6%.

Essa distribuição não é coincidência. Como explica a antropóloga Rita Laura Segato, “a violência sexual não é um ato de desejo descontrolado, mas um ato de poder, de dominação, de imposição de uma hierarquia”. Mulheres negras, pobres e em posições vulneráveis são as mais afetadas: 59,2% das pessoas que testemunham assédio diariamente são pretas e pardas.

As marcas invisíveis do assédio

Se o corpo não carrega hematomas visíveis, a mente e a alma carregam cicatrizes profundas. 31% das vítimas perdem a capacidade de confiar nas pessoas, enquanto 29,2% relatam desânimo e cansaço constantes. Sintomas de ansiedade e depressão atingem 23,2% das mulheres que sofreram assédio, e 19% enfrentam mudanças nas expectativas de carreira.

O impacto vai além do emocional: mulheres assediadas apresentam pior desempenho no trabalho, isolamento social e, em casos extremos, uma em cada seis pede demissão para escapar da violência. É como se o assédio fosse um terremoto emocional: a estrutura parece intacta por fora, mas por dentro tudo desabou.

O silêncio ainda vence

Apesar de 91% das mulheres saberem identificar o que é assédio sexual, a cultura do silêncio ainda predomina. Apenas 10% recorrem aos canais formais de denúncia da empresa, e 21% não fazem absolutamente nada após sofrer a violência.

Por que tantas mulheres escolhem o silêncio? Medo de retaliação, vergonha, falta de confiança nas estruturas internas e a crença de que “não vai dar em nada” são barreiras reais. Conforme a renda diminui, o sentimento de insegurança se intensifica. Para muitas, denunciar parece mais arriscado do que suportar.

O que é considerado assédio sexual?

A percepção sobre o que constitui assédio evoluiu nos últimos anos. Hoje, entre 70% e 80% das mulheres reconhecem como assédio: contato físico não solicitado, mensagens de cunho sexual, solicitação de favores sexuais e pressão para encontros.

Entre 50% e 70% identificam como assédio: olhares lascivos, piadas e brincadeiras de cunho sexual, elogios de ordem não profissional e comentários sobre o corpo. Esses comportamentos, muitas vezes naturalizados como “brincadeira de escritório”, são, na verdade, exercícios de poder disfarçados de interação social.

O que as empresas podem (e devem) fazer?

Empresas que negligenciam o assédio sexual não estão apenas falhando com suas colaboradoras — estão criando ambientes tóxicos, perdendo talentos e expondo-se a riscos jurídicos e de reputação. Para combater essa realidade, é essencial:

  • Canal de denúncia estruturado, sigiloso e bem comunicado a todos da equipe
  • Palestras e treinamentos regulares sobre assédio e respeito no trabalho
  • Código de Conduta formalizando comportamentos inadequados
  • Lideranças engajadas no tema, dando o exemplo
  • Suporte às vítimas e investigação justa ao denunciado[5]

Segundo o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro Aloysio Corrêa da Veiga, “denunciar é um passo essencial para transformar essa realidade”. Mas denunciar só faz sentido quando há estrutura, acolhimento e consequências reais para os agressores.

Conclusão

O assédio sexual no trabalho não é um problema individual, é uma questão estrutural. Não é “exagero”, não é “falta de senso de humor” — é violência que destrói vidas, carreiras e saúde mental. Se sua empresa ainda trata o tema como secundário, está na hora de repensar.

Se você quer construir um ambiente de trabalho seguro, respeitoso e produtivo, chama a Tupã. Juntos, podemos transformar culturas organizacionais, combater o assédio e garantir que nenhuma mulher precise escolher entre sua dignidade e seu emprego.

Na dúvida, procure o RH ou acione os canais de denúncia. Lembre-se: não é “só uma cantada” — é violência.

Fontes

[1] Pesquisa “Trabalho Sem Assédio 2025” – Think Eva e LinkedIn

[2] Tribunal Superior do Trabalho (TST)

[3] Ministério Público do Trabalho (MPT)

[4] Movimento Mulher 360

[5] Fórum Brasileiro de Segurança Pública

[6] Revista IstoÉ Mulher

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